No dia 1º de agosto de 1994, o Brasil vivia momentos intensos: desde a tristeza pela morte de Ayrton Senna até a euforia pelo tetracampeonato mundial de futebol. Em meio a essa montanha-russa de emoções, um repórter dava início a sua carreira no jornalismo automotivo, analisando a cena automotiva da época.
Naquele ano, o país passava por uma transformação na indústria automobilística. Com a abertura das importações em 1990, os brasileiros começaram a perceber o quão defasados eram os carros nacionais em relação aos modelos europeus, asiáticos e norte-americanos. Era hora de atualizar nossas carroças.
O programa do carro popular, lançado pelo presidente Itamar Franco em 1993, foi um marco dessa fase. Carros como o relançamento do Fusca e modelos como Gol 1000 quadrado, Uno Mille Eletronic, Escort Hobby 1.0 e Corsa Wind foram sucesso de vendas. No entanto, era preciso esperar meses nas filas de espera para adquirir um carro zero-quilômetro.
Naquela época, o valor de um salário mínimo era de R$ 70, enquanto um Fusca ou Gol 1000 custavam R$ 7.243. Ou seja, eram necessários mais de 100 salários mínimos para comprar um carro popular. Mesmo assim, as vendas de carros de passeio e comerciais leves saltaram de 724 mil em 1992 para 1,3 milhão em 1994.
Além das transformações no mercado automobilístico, havia também mudanças culturais. Preconceitos como o de carros de quatro portas serem vistos como táxis ou perigosos para quem levava crianças no banco de trás começavam a ser superados. O mesmo acontecia com o ar-condicionado, visto como um item que aumentava o consumo de combustível e roubava potência do motor. O lançamento do Uno Mille ELX, com ar-condicionado de fábrica, foi uma verdadeira revolução.
Outro destaque da época era a injeção eletrônica nos carros. Apesar do medo dos brasileiros em relação à sua resistência e manutenção, a tecnologia estava avançando. A injeção multiponto era mais evoluída do que a single point, e muitos carros ainda traziam o carburador eletrônico.
Em relação aos equipamentos dos carros, era comum que itens como direção hidráulica, travas e vidros elétricos fossem pagos à parte e estivessem disponíveis apenas nas versões topo de gama. A multimídia se resumia ao rádio AM-FM original, e ter um som melhorzinho significava instalar um toca-fitas ou, para os mais ricos, um CD-Player com carrossel no porta-malas.
Naquela época, a indústria automobilística no Brasil era dominada por quatro grandes fabricantes: Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat. A marca italiana foi a última a chegar ao país, mas aos poucos estava vencendo o preconceito dos brasileiros. A Fiat teve um grande sucesso com o Uno, que teve suas vendas impulsionadas com o lançamento da versão Mille.
Além das marcas tradicionais, outras montadoras estrangeiras também estavam presentes no mercado brasileiro, como Honda, Peugeot, Renault e Nissan. No entanto, todas elas vendiam apenas carros importados. A francesa Citroën era vista como uma marca de luxo, enquanto a Toyota, estabelecida no Brasil desde a década de 50, só produzia jipes e picapes Bandeirante em solo nacional.
A valorização do real em relação ao dólar estimulou ainda mais as vendas de carros importados. Japão e Estados Unidos lideravam a indústria automobilística mundial na época. Era difícil imaginar que a China se tornaria a maior produtora de automóveis do planeta alguns anos depois.
No entanto, nem tudo eram flores. Carros coreanos ainda tinham muito a evoluir em acabamento e estilo, e os carros elétricos eram vistos como uma previsão dos anos 70 que nunca se tornaria viável.
Apesar das transformações ocorridas na indústria automotiva desde 1994, muitos sentem saudades da época em que os carros eram mais leves e a atenção estava voltada para o desempenho do motor, câmbio, suspensão e direção. Hoje, a disputa é pelo maior SUV e pelos recursos eletrônicos mais avançados. Os tempos mudaram, mas a paixão por carros continua presente.
Fonte: Motor1
Um jovem que está iniciando sua vida no mundo automobilístico, carregando uma enorme paixão sobre o assunto. Se formou no Ensino Médio em 2023 e pretende se ingressar em uma faculdade. Um jovem que nos tempos vagos, se interessa em fazer atividades familiares.